Do que se recorda da Mexilhoeira Grande?
Vila: Lembro-me de que era uma aldeia simpática. Toda a gente diz que a sua terra é a melhor e a mais bonita. Mas tenho uma paixão por isto e pela família… Está tudo ligado. A lembrança que tenho dessa altura da Mexilhoeira é a da família e convivência com amigos. Lembro-me de gostar muito disto. E de ir comer a casa da minha avó, que me convidava para ir comer feijão com arroz e sandes de toucinho… Lembro-me da minha mãe, que era fantástica, dava-me educação, e o meu pai não. Não me dava nem deixava de me dar. Mas a minha mãe olhava para mim e eu respeitava. Até ela falecer.
O que se comia nessa altura além desse prato?
Era quase isso.
A aldeia tinha mais gente do que tem hoje?
Vila: Não, tinha menos gente. Gente simpática, os meus amigos. Brincava sempre na rua.
Lisa: O adro da igreja era o local de eleição onde se juntava a malta à noite no verão. O Vila costumava subir para o muro e dizia que ia cantar para a Mexilhoeira inteira. E punha-se a cantar Maria do Céu. Isto nos anos 60, era ele puto, devia ter 13 anos. Eu tenho menos 6 anos que ele. Eu era de outra geração mas na altura já acompanhava assim à ilharga estas aventuras. Ele já era velho (risos).
Jornalista Ana Sousa Dias entrevista José Duarte Martins Silva, conhecido por Vila, proprietário do Restaurante Adega Vila Lisa e pintor.
Paulo Salvador e Ricardo Pereira visitarom o restaurante Vilalisa, TVI, programa “Mesa Nacional”, 2020-08-15. “
“ – RP: …a Vila Lisa é mais do que uma catedral gastronómica e de sabores, é muito mais do que isso…
– PS: é uma casa de comidas.
– RP: Não, é um monumento à amizade eterna ! “
– PS: Ah , isso é bem verdade ! “
“Fomos recebidos como amigos e rapidamente nos sentimos em casa. Na mesa corrida de madeira, provámos as famosas Lulas Ovadas e muitos outros pratos que nos arrebataram pela sua essência e simplicidade. “
“(…) se não tivesse tido o prazer de conhecer, conviver e juntar à mesa , ombro a ombro, gente que comigo comungou no aplauso da cozinha algarvia, volúpia partilhada por gente anónima que ao longo de anos sacralizou o contentamento de estar à mesa. Pois, à mesa ninguém envelheceu! (…) Tal como a cozinha tradicional não é uma cozinha de autor, este livro não poderia deixar de ser, também ele, uma obra colectiva, (…)” Vila.
FICHA TÉCNICA
Título: Coisas da Terra e do Mar, Sabores da Cozinha Algarvia
Autor: José Duarte Martins da Silva
Fotografias: João Mariano
Ano de Publicação: 2001
Editora: Oficina do Livro
ISBN: 972-95465-3-3
(Esgotado)
Durante a feitura do livro -cujas fotografias me deu a honra de realizar- foram longos os dias na sua companhia e na do Lisa.
Fotografar, comer, beber, fumar e conversar (não necessariamente por esta ordem) foram a receita para a boa disposição. Na minha memória está sempre o gosto de me ter sentado à mesa com eles, João Mariano.
Todos os agradecimentos à autoria das fotos de João Mariano, 1000 olhos.